Antes de começar a escrever este texto, fui pesquisar e estudar um pouco sobre a herança genética humana. Veja só o que encontrei: "As experiências de vida, boas ou más, podem influenciar os óvulos e espermatozóides até à quarta geração e mudar o destino determinado pela herança genética. A nossa história depende das escolhas dos nossos antepassados."
Essas palavras não são de nenhum Sacerdote do Ìsésé, apesar deles afirmarem isso há milhares de anos. Esta é a afirmação do geneticista e professor Michael Skinner da Universidade do Estado de Washington. Pode pesquisar aí no Google.
Na verdade os Iorubás afirmam que não somos resultado de quatro e sim de sete gerações. Mas a citogenética ainda vai conseguir chegar lá. Eu acredito que eles vão evoluir sim! :)
Agora vamos simbora para o nosso texto.
Muito prazer! Me chamo Maria, Josefa, Rita, Angélica, Alice e Vange. Mas também sou conhecida como Delermino, Francisco, Dídimo, Fernando e Fê. Sou um todo de idos e vivos. Sou toda essa gente, e ainda assim, consigo ser única. Pena que ao me olhar no espelho, eu não consiga ver o etéreo e só consigo enxergar o humano. Será que tenho várias cores em minha alma? Cada uma representando um dos meus ancestrais, inclusive daqueles que não faço ideia de quem sejam e muito menos de quais eram os seus nomes, seus planos e seus sonhos? Não conheço todo o legado que eles deixaram, mas sei que fazem parte de mim. Será que eu me orgulharia desse pedacinho deles dentro de mim, ou será que eu tornaria isso um segredo escondido no fundo de alguma gaveta? Não sei, e talvez nunca saiba.
E você quem é?
Quem será que são as 256 partes que também fazem parte de você?
Minha filha mais velha é muito parecida comigo. Muita gente diz que ela é minha gêmea mais nova. Eu particularmente acho ela muito mais bonita do que eu. Outro dia ela deu um piti e disse em um tom mais elevado de voz:
_ Eu não sou parecida com você! Eu não sou parecida com o meu pai! Eu sou a Mariana e pronto. Não gosto de ser comparada.
Fiquei apenas observando, e lembrei de mim mesma, quando via em mim as imperfeições da minha mãe e do meu pai. E de como eu sempre lutei comigo mesma para conseguir ser diferente deles.
A filosofia iorubá tem me ajudado a entender e a tratar isso com uma outra visão que gostaria de compartilhar.
Aprendi com os meus sacerdotes que somos feitos de ⅔ de uma herança genética espiritual das nossas últimas sete gerações. Essa herança não passa por nenhum tipo de filtro, então vem de tudo para gente, coisa boa e ruim também. Fui bem resistente ao receber essa informação. Talvez eu tenha sentido o mesmo que a minha filha, mas deixei o emocional de lado, que as vezes não nos permite sermos lógicos. Eu precisava ser coerente, pois vivo dizendo que o mundo material e espiritual estão juntos o tempo todo e por que eu estava negando isso agora? De onde vem essa necessidade de tanta autenticidade? A resposta não veio na hora, mas compreendi que existe algo dentro de nós que nos diz que precisamos ser melhores do que os nossos pais, avós e etc, assim como eu quero que as minhas filhas sejam muito melhores do que eu. Foi nesse momento que eu encontrei o ⅓ de mim mesma que faltavam e que me empurrava para frente para ser alguém melhor.
Lá vem elaaaaa com esse papo de ser alguém melhor de novo. Ela não cansa?
Não! :P
Então me disseram que para eu conhecer os meus ⅔, ou seja, as 254 partes de mim, eu preciso me conhecer.
- Poxa, mas se tá difícil conhecer uma pessoa, imagina conhecer 254 ? Quero não ó! Pede pra chamar Ogum e Xangô que estou precisando de coragem!
Como vou fazer isso?
Foi aí que recebi ajuda dos universitários. Aprendi que esse pedido deve ser feito diariamente a Ori em nossas orações e fortificado em nossas atitudes e pensamentos ao longo de todo o dia, como uma vigília. No nosso nível de consciência mesmo, precisamos descobrir quais são as nossas atitudes que nos sabotam. Nesse momento, vamos estar cultuando Ori, Egbé e a nossa ancestralidade feminina e masculina. Nosso Ori é capaz de nos revelar isso.
Ao colocarmos em prática esse exercício vamos poder perceber quais são as heranças espirituais que nos fazem bem e as que não fazem.
É através do culto da nossa ancestralidade que conseguimos corrigir efeitos de uma herança de caráter espiritual em desequilíbrio de todas as ordens: físicas, emocionais e espirituais.
Aí você pergunta: Para quê eu faria isso?
Eu aprendi que quem aceita o desafio e tem êxito, faz com que aquele ⅓ que é a essência do seu EU aumente. Você passa a ser mais você e menos as 254 outras pessoas que herdou. O objetivo, vamos dizer assim, é que no final da sua vida a ancestralidade seja o ⅓ e você seja os ⅔. E o que significa isso? Que você conseguiu ser melhor que os seus pais, que você terá condições de ensinar os seus filhos a serem pessoas melhores do que você. Isso significa que você está fazendo a sua parte para tornar o mundo um lugar melhor.
Esta é uma maneira de culto à nossa ancestralidade direta. O culto possibilita agir retroativamente no sentido de eliminar fatores desfavoráveis para a sua vida e para as próximas gerações. Como dificuldades amorosas, financeiras, desunião familiar e doenças.
Me encontro em uma grande luta: saber quem sou. Pois percebi que enquanto eu não encarar isso de frente, dificilmente conseguirei progredir. Preciso conhecer meus desafios e meus limites. Preciso me olhar de frente e aceitar as minhas imperfeições, que podem até não terem sido geradas por mim, mas que agora fazem parte de quem eu sou. E neste desafio, que pode ser a resposta para muitas questões de nossas vidas, podemos contar com o apoio dos Orixás, desde que seja de coração, desde que o primeiro passo seja dado.
Ire O
Ifasola
Imagem 01: Pinterest, artista não identificado.
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